Languedoc-Rousillon / Empordà / Girona -16/02 a 19/02
Fizemos finalmente a nossa primeira grande viagem de carro! Por grande, quero dizer mais de 2 dias na estrada. Temos planos pra viagens muito maiores, é verdade, mas como somos razoavelmente precavidos, estamos fazendo uma série de pilotos com relação a equipamento, planejamento, estrutura a ser utilizada e por aí vai. Dessa vez, testamos a disponibilidade de banheiros e wifi nas estradas (obrigado, McDonalds!), dormimos uma noite no carro e descobrimos um pouco mais sobre como evitar pedágios (depois de pagar 5 euros para andar 50 min…). A ideia é estarmos sempre aprendendo alguma coisinha para aproveitar na próxima viagem, podendo então ficar mais tempo, conhecer mais lugares, com menos gastos e mais conforto.
Para a estréia, aproveitamos que alguns amigos iriam para Girona no domingo e saímos de casa na quinta. Marcamos alguns pontos no mapa para uma rota circular e juntamos nossas coisas, entre roupa, comida e equipamentos em geral (quem sai de casa sem uma lanterna ou uma luneta?). Começamos pelo “estado” francês de Languedoc-Rousillon, “comarcas” de Pyrénées Orientales e Aude, e depois passamos para Empordà e Girona, de volta a Catalunha.
Começamos a viagem seguindo para a estrada que vai até Puigcerdà e de lá passando para Bourg-Madame, já na França, nos Pyrénées Orientales, mas só uns 20 metros. Uma pausa pra foto na beira do rio Segre, meu rio favorito, e seguimos viagem. Chegamos até Mont Louis e tivemos que fazer uma parada não planejada. De repente, uma muralha gigantesca de um forte em formato de estrela surgiu na nossa frente! Entramos na cidade, onde existe um batalhão do exército francês pronto pra bater em retirada em caso de emergência. A cidade é bem bonitinha, e a altitude dela faz com que a neve seja muito mais frequente, dando um ar bem charmoso. Só achamos que poderia ser mais bem cuidada e ter algum vendedor de crepes de nutella mais acessível. A viagem continuou até a beira do lago Matemale, onde alguns chalés se amontoam frente a uma vista incrível. Fizemos a promessa de voltar no verão para ver o lago descongelado.
Depois disso passamos para a província de Aude, que começa no aprofundamento do vale do rio com o mesmo nome. Quando digo aprofundamento do vale, é de verdade. A estrada serpenteia para um buraco gigantesco, do fundo do qual é realmente difícil ver o sol. As encostas são forradas de coníferas, o que sombreia ainda mais a região. Eventualmente chegamos em uma vila chamada Carcanières les bains, um distrito de Carcanières junto ao rio. A primeira vista a cidade pareceu incrivelmente linda. Há uma ponte que passa a poucos metros de uma cachoeirazinha, enquanto o rio que divide a cidade corre por entre as casas. Mas nossa impressão se mostrou falsa…
Paramos o carro na beira da estrada e saímos a pé para apreciar. Rapidamente um cachorro apareceu pedindo carinho, mas do nada mudou de ideia e tentou me morder. Logo, vimos um cartaz na parede de um prédio que anunciava um exorcista, médium e vidente, atendendo com hora marcada, ali mesmo. Rimos, achando graça da situação. Então percebemos que a esmagadora maioria das janelas da cidade estava fechadas. A única vitrine aberta no térreo tinha anões de jardim com sorrisos macabros empilhados junto à plantas que precisavam ter sido podadas anos atrás. As casas da cidade se concentravam do outro lado do rio, e as pontes de pedestre para alcançá-las estavam todas fechadas com portões e cadeados de tamanhos consideráveis. O bar da cidade, visível da estrada, tinha cara de estar abandonado já a tempos. Subimos para a tal ponte já descrita e de lá foi possível ver do outro lado do rio, sobre um pico, uma grande cruz meio que improvisada. Aquele era um dos poucos lugares onde batia sol na cidade… Rimos de novo, dessa vez de nervoso, e na volta pro carro, que fizemos sensivelmente mais rápida do que a ida, percebemos que a igreja tinha grades imensas na porta, fechando a passagem permanentemente. Ficamos na dúvida se era pra evitar que as pessoas entrassem ou se era pra que o que estivesse lá dentro não saísse…
Seguimos viagem o mais breve possível e logo estávamos em Carcassonne. Talvez o local mais bonito e amigável de toda a viagem. A cidade tem um castelo que, segundo a Ju, é o castelo da imaginação das crianças. Eu aproveitei a dica e defini como “castelo de Platão”, o castelo das ideias, e todos os castelos do mundo são cópias imperfeitas dele. Esse castelo tem ponte elevadiça, muralhas duplas com crenelação, torreão, uma vila interna, fosso. Não falta nada! Claro que a vila hoje se especializou em restaurantes e lojas de suvenir, mas comemos um bom crepe de nutella com um vendedor bastante simpático (não ganha do crepe da marmota, em Font Romeo, mas acho que nada ganha…). Passeando pelo centro moderno, comemos um panini de nutella também. Me pergunto por que isso não vende no mundo inteiro. O rio Aude cruza a cidade, já mais amplo e com um parque margeando, deixando o cenário ainda mais completo.
De Carcassonne fomos para Narbonne, onde demos um passeio noturno. A cidade, já bem mais próxima do mar, tem um canal estreito atravessando o centro histórico. Esse canal não é muito agradável, mas as construções em volta compensam essa falta de charme. Na praça central há uma escavação que expõe um trecho da via Domitia, uma estrada que ligava os territórios romanos, indo da atual Suíça (ou perto) até a Espanha. Incrível o que esses romanos deixaram espalhados por aí. A cidade também tem uma catedral que é absolutamente gigantesca, mas estava fechada durante a nossa passagem noturna… Fomos ainda na mesma noite até Perpignan, onde dormimos no carro mesmo, e assim acabou o primeiro dia de viagem.

Muralha de Mont Louis
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Carcanières Les Bains

Detalhe dos portões e grades nas pontes de acesso às casas

Tudo abandonado…

E frio!
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Carcassonne

Cidadela dentro da muralha, hoje com restaurantes e lojinhas

Vista da cidade, de cima da Muralha

Rio Aude

Panini quentinho com nutella derretida! (Do crepe nem deu tempo pra foto!)
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Narbonne

A Catedral é realmente imensa

Fonte da Praça Central

Via Domitia (trecho original romano)
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